27 de maio de 2007

"El regreso del Idiota" - parte I

O texto a seguir é um ensaio de Alvaro Vargas Llosa, B.S.C. em História Internacional pela London School of Economics, Diretor do Centro para Prosperidade Global do "Indepent Institute", publicado na revista "Veja" de 9/5/2007. O autor é filho do renomado escritor peruano Mario Vargas Llosa.

Com efeito, a razão para a publicação do artigo é a medida autoritária do presidente venezuelano - o perfeito idiota latino-americano, Hugo Chaves - de fechar a rede privada de televisão RCTV. Apesar da extensão do texto, o ensaio é de altíssima qualidade e permitirá ao leitor compreender o retrocesso que vive parte da América Latina, com seus governantes autoritários, representantes da esquerda populista. Boa leitura!


O retorno do Idiota

por Alvaro Vargas Llosa *


Durante o século XX, os líderes populistas da América Latina levantaram bandeiras marxistas, praguejaram contra o imperialismo e prometeram tirar seus povos da pobreza. Sem exceção, todas essas políticas e ideologias fracassaram, o que levou ao recuo dos homens fortes. Agora, uma nova geração de revolucionários tenta ressuscitar os métodos ineficazes de seus antecessores.

Na reunião de Los Panchos: Chávez, Morales e o cubano Carlos Lage são expoentes da esquerda ainda presa à mentalidade da Guerra Fria. Outra esquerda, que governa no Chile e no Brasil, tenta evitar os erros do passado

Dez anos atrás, o colombiano Plinio Apuleyo Mendoza, o cubano Carlos Alberto Montaner e eu escrevemos o "Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano", livro que criticava os líderes políticos e formadores de opinião que, apesar de todas as provas em contrário, se apegam a mitos políticos mal concebidos. A espécie "Idiota", dizíamos então, era responsável pelo subdesenvolvimento da América Latina. Tais crenças – revolução, nacionalismo econômico, ódio aos Estados Unidos, fé no governo como agente da justiça social, paixão pelo regime do homem forte em lugar do regime da lei – tinham origem, em nossa opinião, no complexo de inferioridade. No fim dos anos 1990, parecia que os idiotas estavam finalmente em retirada. Mas o recuo durou pouco. Hoje, a espécie retornou na forma de chefes de estado populistas empenhados em aplicar as mesmas políticas fracassadas no passado. Em todo o mundo, há formadores de opinião prontos a lhes dar credibilidade e simpatizantes ansiosos por conceder vida nova a idéias que pareciam extintas.

Por causa da inexorável passagem do tempo, os jovens idiotas latino-americanos preferem as baladas pop de Shakira aos mambos do cubano Pérez Prado e não cantam mais hinos da esquerda, como A Internacional e Hasta Siempre, Comandante. Mas eles ainda são os mesmos descendentes de migrantes rurais, de classe média e profundamente ressentidos com a vida fútil dos ricos que vêem nas revistas de fofocas, folheadas discretamente nas bancas. Universidades públicas fornecem a eles uma visão classista da sociedade, baseada na idéia de que a riqueza precisa ser tomada das mãos daqueles que a roubaram. Para esses jovens idiotas, a situação atual da América Latina é resultado do colonialismo espanhol e português, seguido do imperialismo dos Estados Unidos. Essas crenças básicas fornecem uma válvula de segurança para suas queixas contra uma sociedade que oferece pouca mobilidade social. Freud poderia dizer que eles têm o ego fraco, incapaz de fazer a mediação entre seus instintos e a sua idéia de moralidade. Em lugar disso, suprimem o conceito de que a ação predatória e a vingança são erradas e racionalizam a própria agressividade com noções elementares do marxismo.

Os idiotas latino-americanos tradicionalmente se identificam com os caudilhos, figuras autoritárias quase sobrenaturais que têm dominado a política da região, vociferando contra a influência estrangeira e as instituições republicanas. Dois líderes, particularmente, inspiram o Idiota de hoje: os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia.

Chávez é visto como o perfeito sucessor do cubano Fidel Castro (a quem o Idiota também admira): ele chegou ao poder pelas urnas, o que o libera da necessidade de justificar a luta armada, e tem petróleo em abundância, o que significa que pode bancar suas promessas sociais. O Idiota também credita a Chávez a mais progressista de todas as políticas – ter colocado as Forças Armadas, paradigma do regime oligárquico, para trabalhar em programas sociais. De sua parte, o boliviano Evo Morales tem um apelo indigenista. Para o Idiota, o antigo plantador de coca é a reencarnação de Tupac Katari, um rebelde aimará do século XVIII que, antes de ser executado pelas autoridades coloniais espanholas, profetizou: "Eu voltarei e serei milhões". O Idiota acredita em Morales quando ele alega falar pelas massas indígenas, do sul do México aos Andes, que buscam reparação pela exploração sofrida em 300 anos de domínio colonial e outros 200 anos de oligarquia republicana.

Para ler a continuação deste excelente artigo, clique aqui.

* Alvaro Vargas Llosa, autor, junto com o colombiano Plinio Apuleyo Mendoza e o cubano Carlos Alberto Montaner, do livro "Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano", é diretor do Centro para a Prosperidade Global do Instituto Independente, em Washington. O texto foi reproduzido com permissão do Foreign Policy nº 160 (maio/junho 2007) pela revista VEJA – www.foreignpolicy.com. Copyright 2007, Carnegie Endowment for Internacional Peace.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marcus, este texto é sensacional, eu já conhecia Mario Vargas Llosa de maravilhas como La Fiesta del chivo (A festa do Bode) e A guerra do fim do mundo. O primeiro sobre o ditador dominicano Trujillo e suas atrocidades e o segundo sobre um dos temas que mais me despertam paixão: A Guerra de Canudos, tema que me fez criar coragem e enfrentar um problema de saúde que não me deixa sair de casa por muito tempo e ir até Monte Santo BA para percorrer a região do conflito dormindo numa caçamba de um VW/Saveiro.
Álvaro Vargas Llosa herdou os genes literários de seu pai e moldou uma crônica perfeita sobre estes supostos "salvadores" latino americanos que tanto atrapalham o desenvolvimento da região. Creio que não teremos (nós latino americanos, brasileiros inclusos) não teremos chance de chegar mesmo ao primeiro mundo. Mesmo o Chile que você diz estar num patamar mais elevado de civilização devido ao governo "não esquerdista" de Bachelet, me parece anda em off, só aguardando um vacilo das instituições para retornar com um governo canhoto e com tendências totalitaristas. Triste.
Estes Idiotas, que atribuem todos os problemas de seus Países ao imperialismo ianque e a colonização européia não pensam duas vezes antes de vender seus principais produtos aos EUA, vide Chávez com seu petróleo e neste caso particularmente as blagues do caudilho venezuelano vão só até a terceira pagina, pois esbravejar contra Bush, gritar, espernear vá lá, mas se quisesse mesmo agredir colocaria as empresas americanas pra fora do país. Isto ele não faz, e nem fará! Sob o medo da mão pesada do líder americano que por conta do mesmo produto (petróleo) se fez sentir no oriente médio.
Palavras como, clientelismo; Paternalismos, não me parecem serem sintomas apenas do 'esquerdismo' mas caem bem aqui por serem apenas expressão da verdade.
Bem já estou me estendendo muito, estou copiando este texto (do Álvaro) e vou guardá-lo para compará-lo mais tarde com os de um outro autor que gosto muito e do qual detectei pontos de intersecção: Eric Hobsbawn.
Agora, o que antes era ceticismo em relação ao teu liberalismo, é uma simpatia eufórica, estou indicando teus textos a amigos que tem me devolvido as melhores impressões. Gente que diferentemente de mim tem melhores condições sociais e intelectuais para analisá-lo. De resto tenho a dizer que seu blog já figura entre os três mais visitados por mim.
Abraço e até a próxima aula, como tenho considerado a leitura deste canal.
Ron Groo

Anônimo disse...

Pelo seu blog eu vi que você se importa pouco com o futuro da humanidade. Torce tanto pra manutenção da natureza, mas é um leitor da Veja, que pasme,é um dos maiores instrumentos de destruição do desenvolvimento nacional e lavagem cerebral de direita.