25 de maio de 2007

O Brasil no Mundo - Parte II

PPP e “BIG MAC INDEX”

No último dia 16, reeditamos o ranking das maiores economias do mundo, em função do »Produto« – ou seja – a soma de todas as riquezas produzidas em determinado período. Observamos que o Brasil está muito bem ranqueado, como 10ª potência econômica do planeta. Contudo, nossa população »não« é a décima mais rica. Muito pelo contrário, a renda per capita de US$ 6.220,22 ao ano é tragicamente baixa. Nesse quesito, o Brasil está na 62ª posição.


No intuito de melhor refletir a realidade, em função da variação da base de preços, o poder de compra da população dos países é definido por um índice denominado Purchasing-Power Parity (PPP). Distintamente do critério de cálculo do PIB per capita, o PPP leva em consideração a valorização da moeda corrente em relação aos preços praticados no mercado doméstico de cada país.

Tanto uma cesta de produtos quanto um único item podem ser levados em consideração para a definição do índice. Em 1986 a revista The Economist criou o “Big Mac Index”, um indicador baseado na “paridade do poder de compra” ou PPP, em função do preço do sanduíche Big Mac, padronizado na rede mundial de fast-food McDonald’s. Esse índice também é utilizado para medir a valorização ou a depreciação de uma moeda frente à outra.

Observe-se, abaixo, a mais recente tabela divulgada pela The Economist, em março de 2007 (tomando por base o preço do Big Mac, em 25 de março de 2006):

Clique com o lado direito do mouse sobre a tabela,
para visualizá-la ampliada em outro janela

Como interpretar a tabela:

Dividindo-se o preço do produto na moeda local pela cotação do câmbio, chega-se ao do preço do sanduíche em dólares. No caso brasileiro:

Preço em moeda local / câmbio = preço em dólar
R$ 6,40 / R$ 2,0354 = US$ 3.1443

Observe-se, inicialmente, que o sanduíche é US$ 0.04 (quatro cents) mais caro que nos EUA. O preço no Brasil também é mais elevado que em todos os países emergentes. Perde somente para a Suíça (onde custa US$ 5,22), a Suécia, os países da Zona do euro, a Nova Zelândia e o Canadá.

A etapa seguinte é o cálculo do Purchasing-Power Price (preço em função do poder de compra), obtido através da divisão do preço do sanduíche na moeda local pelo preço em dólares.

Preço em dólar / preço nos EUA = PPP
R$ 6,40 / US$ 3.10 = 2,06

O índice encontrado na etapa anterior servirá agora para identificar eventual discrepância na taxa de câmbio doméstica. Será possível observar o percentual de valorização ou desvalorização em relação ao dólar, levando-se em consideração os preços praticados no país (no caso da nossa análise, o preço do sanduíche Big Mac). A equação a ser utilizada é a seguinte:

[(PPP – taxa de câmbio) / taxa de câmbio] x 100 = Valorização
[(2,06 – 2,0354) / 2,0354] x 100 = 1,2%

No cálculo do exemplo brasileiro, observa-se uma valorização excessiva de 1,2% do valor do real em relação ao valor do dólar, tomando-se por base, exclusivamente, o PPP do sanduíche Big Mac. O inverso ocorre na China (-56%), que conserva o yuan dramaticamente desvalorizado em relação ao dólar, com o objetivo de atender a sua política de exportações. Imagine-se que a China resolvesse exportar sanduíches Big Mac, certamente, nenhuma outra filial da rede conseguiria sobreviver a essa concorrência.

A revista The Economist criou o Big Mac Index, do qual é possível tirar diversas conclusões através da análise do perfil econômico da população dos distintos países que, com seus respectivos salários e suas moedas nacionais, consomem o produto em questão. Em uma economia uniforme, na qual as diferenças de renda não são elevadas, o índice é bastante preciso. No Brasil, país no qual a disparidade na distribuição de renda é dramática, naturalmente, o índice é mais sensível entre os "abastados" clientes da rede de fast-food.

PPP per capita

O World Economic Outlook, do Fundo Monetário Internacional também apresenta em suas tabelas de estatísticas um ranking mundial do PPP per capita. A previsão do fundo para 2007 é que o Brasil fique em 72º lugar, entre os 180 países avaliados. Não é difícil de entender o porquê: os preços, conforme visto no exemplo do Big Mac são elevados e os salários são baixos. Conforme o Dieese, o Salário Mínimo mensal precisaria ser de R$ 1.620,89 para conseguir comprar uma cesta básica.

Recorde-se o período no qual 1 real valia 1 dólar. Nesta época morava em Genebra, uma das cidades mais caras do mundo. Lembro-me, porém, que muitos dos preços praticados no Brasil, quando convertidos em francos suíços (SFr) eram mais elevados do que na própria Suíça. Naturalmente, a moeda brasileira estava excessivamente valorizada. A não-flutuação do câmbio, como explica o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, serviu como âncora para a estabilização de preços e, por conseqüência, para contenção da inflação.

Hoje, exportadores queixam-se do câmbio com certa razão. Todavia, o problema maior não está na valorização do real frente ao dólar, mas na brutal carga tributária que incide sobre a produção. No primeiro quadrimestre de 2007 o governo bateu mais um recorde de arrecadação de impostos: R$ 300 bilhões. Mas esse é um tema para outros artigos.


6 comentários:

Felipão disse...

Desculpa a invasão, Marcus. Cheguei aqui pelo blog do Ron Groo e gostaria de parabenizá-lo pelos textos. Como cheguei agora, estou dando uma repassada no blog todo...

Felipe Maciel disse...

Muito, muito interessante este post! Pena que a situação do Brasil não seja tão interessante quanto. Ou melhor, a situação dos brasileiros. Porque o Brasil não é uma país pobre, o povo é que não absorve a renda adequadamente, de acordo com seus direitos.

Anônimo disse...

Da parte economica fico devendo posição...embora tenha lido tenho de confessar que entendi muito pouco...
Não sei se devia, mas queria um comentario seu no meu post "Acorda America do sul"...Desculpe pedir...mas queria sua opinião.

Marcus Mayer disse...

Felipe Midea,
é com muito orgulho e satisfação que registramos a sua visita. Volte sempre e comente os posts quando considerar conveniente, fazendo criticas, elogios ou complementando informações. Seja muito bem-vindo!

Registre-se um especial agradecimento a Ron Groo pela divulgação de nosso blog.

Marcus Mayer disse...

Felipe Maciel,
nos próximos dias reeditarei "O Brasil no Mundo - Parte III". Acredito que a matéria venha perfeitamente ao encontro dessas suas observações. Você tem toda a razão no que escreveu. Vamos, agora, fundamentar tudo isso com informações micro- e macroeconômicos.

Muito obrigado, pelo comentário. Esse post exigiu muita pesquisa, para que os dados fossem bastante precisos e atuais. Também procuramos nos esforçar para conseguir condensar muitas informações técnicas e tornar a leitura atraente.

Grande abraço.

Marcus Mayer disse...

Ron,
como disse ao Felipe Midea, é sempre uma grande satisfação constatar as visitas ao blog e observar os comentários.

Não lhe tiro a razão quanto à complexidade da matéria, apesar da tentativa de traduzir, como costuma dizer Joelmir Beting, do 'economês' para o português. Contudo, uma breve olhada nas tabelas já permite uma boa leitura daquilo que o texto deseja expressar. Os cálculos tem fins, exclusivamente, didáticos.

Terei enorme prazer em observar e comentar o texto que sugeriu. Gostei muito dos seus artigos sobre a crise na USP, principalmente, pelo fato de revelarem uma ótica vista de fora da instituição.

Até breve.