22 de maio de 2007

A complicada tarefa de administrar São Paulo

CRÉDITO: Marcio Rodrigues - Veja SP
Em diversos posts elogiei iniciativas do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), na foto ao lado, mormente a “Lei Cidade Limpa”, que visa a acabar com a poluição visual no município de São Paulo. Em nossa recente coluna WEEKLY NEWS dedicamos dois blocos a projetos da Prefeitura. O primeiro destacou o incentivo fiscal oferecido às empresas que se instalarem na região da Nova Luz, antiga “cracolândia”, no centro antigo da cidade. O outro bloco foi dedicado ao plano do secretário de Subprefeituras, Andrea Matarazzo, de revitalizar a região do Parque Dom Pedro.

Estação da Luz
Certamente, todo paulistano ou morador da capital paulista sabe reconhecer a importância desses projetos. A degradação do centro da metrópole foi catastrófico. Durou muitas décadas e nada era feito para mudar a situação.

Felizmente, a situação parece começar a ser revertida. Destaque-se a espetacular reforma que sofreu a antiga Estação Júlio Prestes, transformada na Sala São Paulo, um dos mais espetaculares salões de concertos do país. Também as restaurações da Estação da Luz, que hoje comporta o Museu da Língua Portuguesa e do Mercado Municipal que se transformou em ponto turístico da capital. Sugiro uma visita ao ótimo site CentroSP, onde estão muito bem descritos e fotografados diversos projetos interessantes de reurbanização.

A revitalização do centro antigo teve início na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (PT-SP), que já foi merecedora de comentário elogioso em nosso blog, quando abordamos a reforma realizada na Av. Nove de Julho - com novas calçadas e um decente corredor de ônibus. Lamente-se o ridículo outdoor do deputado estadual Campos Machado (PTB), na foto abaixo, que desadorna terrivelmente a fachada de seu escritório e a paisagem da bonita avenida.

A reformada avenida Nove de Julho e a excrescência do deputado Campos Machado


DENÚNCIA - Depois de enumerados destaques positivos das obras da municipalidade, nosso leitor Gabriel Souza (23), estudante do curso de Letras da USP, solicitou que analisássemos um fato recente, nem tão saudável, ocorrido na administração do atual prefeito. Referia-se à matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo, do dia 08/5/2007, sob o título “Kassab se omite, e benesse a vereador vai virar lei em SP”. Abaixo destaco um trecho da matéria, para que se possa entender o que aconteceu:

”O prefeito Gilberto Kassab se omitiu e com isso garantiu ontem a aprovação do projeto que amplia os benefícios dos vereadores de São Paulo. Kassab não sancionou nem vetou ontem o projeto de lei, de autoria da Mesa da Câmara. Ontem venceram os 15 dias úteis previstos no artigo 43 da Lei Orgânica do Município para que o prefeito se manifestasse - o projeto chegou à prefeitura no dia 13 de abril. (...) Com sua omissão, uma hipótese prevista no parágrafo 3º do artigo 43 da Lei Orgânica do Município, ele evita um atrito com os parlamentares e tenta fugir de mais um desgaste com a opinião pública.”

Mercado Municipal
Infelizmente, qualquer que fosse o prefeito a mesma decisão seria tomada. Vetando o projeto, seria deflagrada uma indisposição entre os poderes Legislativo (Câmara) e Executivo (Prefeitura). A única solução que encontra essa situação vergonhosa é através das urnas. Cabe ao eleitor o veto. Está faltando mais ação por parte de ONGs como a Transparência Brasil e da própria sociedade civil como um todo, no sentido de se manifestar de forma contundente contra projetos tão vergonhosos quanto esse, do vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR). A própria imprensa deveria dar maior destaque ao tema e denunciar o que, particularmente, considero mais um escândalo com uso inadequado do dinheiro dos impostos.

Leia-se abaixo o restante da matéria da Folha, enumerando a falta de escrúpulos desse outro bando de canalhas da Câmara Municipal de São Paulo:

“O projeto foi uma promessa de campanha do vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR) para ganhar a presidência da Casa no fim do ano passado. Os vereadores terão, a partir de agora, uma verba de até R$ 12,5 mil para pagar as despesas de seus gabinetes. Hoje, os parlamentares têm direito de usar cotas de serviços fornecidos pela Câmara, como cópias de documentos, correios e gasolina para o carro oficial que, no total, somam cerca de R$ 10 mil por mês para cada vereador. (...) Os vereadores têm salários de R$ 7.155 por mês e contam com até 18 assessores - que agora poderão trabalhar fora da Câmara, nas bases eleitorais dos parlamentares - com salários de até R$ 6.700. Além disso, os servidores poderão, por exemplo, ganhar R$ 1.200 extras para assessorar, em seu próprio horário de trabalho, as comissões da Casa. O projeto também abre margem para que funcionários de carreira recuperem uma parte dos ganhos retirados em 2003, quando uma reforma administrativa cortou benefícios em cascata que levavam a supersalários de até R$ 48 mil.”


4 comentários:

Gabriel Souza disse...

Obrigado pelo crédito Marcus, mas sou obrigado a discordar. Quem ficaria mal nesta situação seria o tal vereador (recuso-me a mencionar o nome deste) que não cumpriria sua promessa de campanha.

O nosso prefeito-quibe deveria sim vetar o projeto, ele não prometeu nada a ninguém - pelo menos até onde eu sei. Afinal de contas, como você mesmo diz, quem paga a conta somos nós. Acredito que isso esteja acima de qualquer intriga entre poder Executivo e Legislativo.

Abraço!

Marcus Mayer disse...

Gabriel, infelizmente, a coisa não é tão simples. Eu também acho que prefeito deveria vetar esse vergonhoso projeto.

Um canalha como esse vereador deveria sofrer um processo de impeachment - o que seria natural em qualquer parte do mundo "decente" - mas ele tem o apoio da maioria dos outros edís.

Assim, nessas questões, só resta submeter-se à independência dos Poderes. Caso o prefeito comprasse a briga, não conseguiria mais governar. É triste, mas essa é a nossa realidade.

Num próximo post vou relatar o que aconteceria na Suíça ou na Alemanha - países que conheço de perto - citando alguns exemplos de fatos que ocorreram enquanto lá vivia.

Muito obrigado, Gabriel. Envie sempre sugestões que teremos prazer em publicar e debater.

Anônimo disse...

Marcus,

Outro dia li em uma VEJA passada, que dois meses depois de uma eleição para cargos como deputado federal ou estadual, 70 ou 80% dos brasileiros não lembram em quem votaram! É o sonho de todo mau político: ser eleito e não precisar prestar contas ao seu eleitorado.

Vi uma experiência no Miami Herald, que já encaminhei para a Folha de São Paulo e que quero compartilhar contigo: todo dia, na primeira página do caderno de política, o jornal supra-citado colocava como os senadores e deputados distritais pela Florida tinham votados nos assuntos do dia anterior em suas respectivas casas. Quer melhor exposição que isso?

Abraços
Xico

Anônimo disse...

Marcus tem razão. Este tipo de sujeira o nosso alcaide teve de empurrar forçosamente para baixo do tapete persa em nome da governabilidade.
Neste caso ficamos com cara de tacho, porque fomos nós que escolhemos os dignos Vereadores de nossa cidade. Agora, que bom seria se a vereança brasileira fosse como a cãmara dos comuns em alguns países europeus. Sem remuneração. Acho que nos livrariamos de muitos tipos tronxos e sanguessugas do dinheiro público.
Bem feito pra nós, que ainda não aprendemos a votar.
Quanto ao trabalho do Kassab na revitalização da Luz e quetais só podemos aplaudir. Bola dentro tem de ser comemorada sempre. E o Kassab deu uma lindissíma neste caso.
Abraços
Ron Groo