22 de junho de 2007

Michael Bloomberg: um ótimo exemplo

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Prefeito Michael Bloomberg / Crédito: Business Week
O prefeito da cidade de Nova York, Michael Bloomberg, trabalha a 1 dólar por ano, vive na sua própria casa e doou 144 milhões de dólares no ano passado a mais de 800 organizações da cidade. O antigo analista de Wall Street criou um serviço de notícias digno de bilhões de dólares. Isto o ajudou a apoiar esforços nas áreas de saúde pública, artes, instituições educativas e serviços sociais na cidade.
Fonte: Business Week

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Presidente Bloomberg?
por Lucas Mendes *

Para a BBC Brasil
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Como é bom ser governado por um líder que faz, não rouba nem deixa roubar, vai de metrô para o trabalho, não diz besteira nem o politicamente correto, não decide com base em pesquisa, não puxa o saco nem deixa puxar o dele, não é político e nem mesmo tem base partidária.

Michael Blooomberg agora nem tem partido. Esta semana deu uma banana para os republicanos. Ele é meu sexto prefeito em Nova York e continuaria votando nele o resto da vida. Infelizmente a lei não permite mais um mandato.

Com exceção de Koch, os prefeitos anteriores quase enterraram esta cidade. Giulliani leva a fama de salvar Nova York do crime na década de noventa e do desespero depois do 11 de setembro. Ele merece crédito pela liderança nos quatros meses finais do mandato, depois dos ataques às torres, mas quando deixou o cargo Nova York estava de novo à beira de outra crise financeira, endividada, desempregada e racialmente tensa.

Bloomberg se elegeu graças a seus bilhões, mas herdou um pepino sem um dia de experiência em administração pública e suas primeiras decisões, naquela época, foram controvertidas e impopulares. Proibiu cigarros em bares e restaurantes e aumentou o imposto predial em 18%. Seu índice de aprovação caiu de quase 70% para 20%, e o fim de sua jovem carreira política estava à vista.

Ele não só deu a volta por cima como já devolveu boa parte dos impostos, a cidade está com dinheiro de sobra nos cofres e com crédito AA na praça. Bem munido para brigar com a indústria de alimentos e contra a obesidade, Bloomberg baniu gordura trans dos restaurantes.

Tornou-se o inimigo público número 1 da indústria de armas por causa de seus processos contra vendedores que não cumprem as leis e pela criação de uma associação de mais de duzentos prefeitos para aprovar leis anti-armas impassáveis em Washington.

Seu projeto da Nova York verde é um dos mais radicais do mundo e, contrariando fórmulas financeiras conservadoras, criou o maior plano habitacional do país para a população de baixa renda. Seus 165 mil apartamentos dariam para abrigar a população inteira de Atlanta.

Agora em setembro vai começar sua versão do bolsa-família inspirado no modelo mexicano Oportunidades. Com dinheiro da iniciativa privada, inclusive do próprio bolso, 2.500 famílias vão receber US$ 5 mil por ano se cumprirem metas como filhos estudiosos, pais mais envolvidos nas decisões nas escolas, check-up médico, emprego em tempo integral. O progresso destas 2.500 famílias vai ser comparado com o de outras 2.500, em iguais condições de pobreza. Se o sucesso dos bolsistas for comprovadamente superior, o projeto se tornará público.

Presidente Bloomberg? Infelizmente jamais. Como ele mesmo diz, quem votaria num judeu baixinho, bilionário, com um divórcio nas costas e reputação de liberal? - Muita gente. Não para se eleger presidente, mas o suficiente para destruir as chances de Hillary Clinton ou de qualquer democrata em 2008, como Ralph Nader destruiu as de Al Gore em 2000 e Ross Perot as do Bush pai em 1992.

Meu querido prefeito, pelo amor de Deus....
* Lucas Mendes é jornalista e apresentador de televisão. Em 1993 criou o programa Manhattan Connection, para o GNT, da Globosat, onde continua até hoje como apresentador e editor executivo. Escreve colunas periódicas para a BBC.


11 comentários:

Anônimo disse...

Mas é uma maravilha! Será que não dá pra mandar este texto para o prefeito Kassab? Eu gosto do nosso prefeito Kibe vejo nele um potencial...apesar do mandato ter caido no colo dele.
Pena eu não poder mandar isto para o prefeito de minha querida cidade, pois desconfio que ele não saiba interpretar textos com mais de quatro linhas.
E de novo a frase do outro comentário´...o que é a cultura de cada país, não? Se fosse por aqui já teriam posto nele um rótulo qualquer (como colocarm em Collor o de 'caçador de marajás') e o teriam lançado a sucessão de Lula. Seria um produto mal-embalado o que é uma pena pois o conteúdo é de dar inveja em todos nós.

Anônimo disse...

Só mais um pergunta que me ocorreu... Ele recebe um dólar ao ano por que quer, ou porque assim determina a lei por lá?
Groo

Lúcio Lopes disse...

Caro Marcus:
Você não acha que se nossos políticos ganhassem o triplo do que ganham, mas não roubassem, seríamos uma outra nação?

Marcus Mayer disse...

Caro Ron:

Inicialmente, respondendo à pergunta, o prefeito Bloomberg reduziu o seu próprio salário porque não necessita dele. Como a lei não permitiria que trabalhasse de graça, conseguiu contorná-la, definindo o salário em 1 dólar ao ano. Além disso, é um doador particular para obras da prefeitura. A reportagem da Business Week o classifica como um dos maiores filantropos do mundo. Além de governar a cidade "paga" para trabalhar...

Sou muito cético em relação a todos os nossos políticos, mas também tenho gostado da admiistração do "prefeito Kibe" (DEM), de São Paulo, como também dos prefeitos Fernando Pimentel (PT), de Belo Horizonte, e César Maia (DEM), do Rio de Janeiro. Não são nenhum "Bloomberg" mas se destacam por iniciativas louváveis.

Ron, muito obrigado, pelos excelentes comentários!

Marcus Mayer disse...

Caro Lúcio:

Concordo integralmente. Eu trocaria fácil, pois o custo de um alto salário - por mais distante que estivesse da média do que ganha o restante dos brasileiros - ainda seria irrisório diante do volume da corrupção. Agora, hipoteticamente, se isso fosse possível, não acredito que "eles" aceitassem a troca.

O problema brasileiro é mais de caráter do que salarial. A legislação também colabora para permitir facilidades. Se todos os políticos tivessem de abrir mão do sigilo bancário e fiscal, a corrupção poderia ser contida. Mas quem aprovaria uma lei dessas?

Lúcio, muito obrigado pela visita e pelo comentário. O seu blog, o Minuto Político, continua como referência para acompanhar da forma mais atualizada os últimos acontecimentos do mundo político.

Felipão disse...

Marcus...

Não sei se você já havia visto nos meus favoritos ou do Felipe Maciel esse link:

http://worstlap.blogspot.com/

Os textos são excelentes!!! Vale a pena dar uma lida...

Desculpe a invasão, caro Marcus...

Felipe Maciel disse...

Marcus,
aproveitando que o Felipão fez uma indicação, vou deixar uma dica também. Dá uma olhada nisso aqui: http://www.youtube.com/watch?v=fJuNgBkloFE
É inacreditável!

Depois eu passo com mais calma para prestigiar o texto do blog. Agora não é boa hora, infelizmente.

Abraço

Marcus Mayer disse...

Caro Felipão:

"Invasão"?! - Aqui você está em casa!!! É sempre bem-vindo! Fico muito contente com a indicação - visitei o link e, realmente, gostei muito do humor e dos ótimos textos. Vamos ampliar a nossa listinha de blogs recomendados com esse também.

Agora, essa história de New Caledonia é brincadeira, né?! De qualquer forma foi uma escolha interessantíssima. Tomara que não seja tomada pelo mar como Tuvalu (que deve ficar nas proximidades), em função do aquecimento global.

Lamentavelmente, tive pouco tempo durante essa semana para girar como gostaria por todos os blogs. Certamente, compensarei, em breve.

Abraços e obrigado pela visita.

Marcus Mayer disse...

Caro Felipe Maciel:

Fiquei muito entusiasmado com a possibilidade de comprar um cd desse novo cantor de música latina, Fidel Castro, e escutá-lo ao sabor de um Coffee Anan! Impressionante, Felipe!!! Muito bom!!!

What is the United Kingdom??? Tony Blair is Linda Blair's brother... Unbelievable!

Há tanto absurdo que não sei mais qual é o maior.

Quando vivi fora do Brasil, tive contato com muitos americanos que estavam na Europa para especialização acadêmica. É até possível que fossem bons em algumas especializações, mas Geografia e conhecimentos gerais, realmente... esse não é o forte deles. Falar outra língua, então... pra que, se todos falam inglês (?!) - respondem, de forma simplória.

Mas nem na Geografia doméstica... o Estado do KFC... e o pior de todos: name a country that begins with the letter "U"... "Ugoslavia" is better than "Yunited States"...

Bravo, Felipe!!!

Mauro Cesar Costa disse...

Marcus teu blog é sempre uma grande fonte de informações e aprendizado. um "Perfeito" assim desconheço aqui no Brasil. Aproveito e trago ao amigo "boas" notícias, o grid pra F Bus Teresina ja está no ar. Passa lá.

Felipão disse...

Legal Marcus...

Valeu!!!!