24 de maio de 2007

Do blog de Reinaldo de Azevedo

mayer
Segue abaixo, na íntegra, texto publicado por Reinaldo de Azevedo (foto) em seu blog, no site da revista VEJA. O blog expõe o debate, desde o dia da invasão do prédio da reitoria da USP, através de diversos textos muito interessantes do articulista, bem como de diálogos que tem mantido com alunos da universidade - entre eles, aqueles que estão a favor do movimento e outros que são contrários. Vale a pena dar uma lida nos diversos posts, clicando sobre os links dos textos de arquivo do mês de maio. Divertidíssimo!

"Por que tantos odeiam a FEA-USP?
É fascinante!

Vocês não sabem a quantidade de comentários que chegam esculhambando a FEA — a Faculdade de Economia e Administração — da USP. Por quê?

Estive lá dia desses. Com efeito, nem parece a USP — como diria Lula de certo país africano — de tão limpinha. Tive de caminhar de um prédio pra outro, até me encontrar com um professor. Passei antes no banheiro para ajeitar o colarinho, lavar o rosto. Estava tudo muito aceitável. Não reparei, mas acho que havia ar condicionado no saguão. Não me lembro de ter sentido calor. Não há aquele cinza-concreto com pichação — misto de Alemanha Oriental pré-queda do Muro com Paris de 1968 —, que tão bem caracteriza certos prédios da universidade. A FEA excita a imaginação dos que pretendem fazer arranca-rabo de classes entre os estudantes.

E como é que se chegou àquele estágio. “Ah, esses mercenários recebem dinheiro privado por meio das fundações”.É mesmo, é? Que crime, não? Quer dizer que o “merrrcado” se interessa, por exemplo, pelos números da Fipe? Ainda bem! Mas não só o merrrcado. Também o trabalhadores. Seus índices de inflação já serviram de argumento para muita reivindicação sindical. A Fipe foi uma das primeiras fundações a se interessar por microeconomia no Brasil — ou pela chamada “economia real”. Universidades no MUNDO INTEIRO — anotaram aí a expressão “MUNDO INTEIRO?” — prestam esse tipo de serviço. E são, sim, remuneradas. E aplicam o que recebem na melhoria das condições de ensino e de pesquisa.

Por que é que a Fefeléchi não tem, até hoje, um instituto de pesquisas? O que fazem os seus sociólogos que não se encarregam de criar um? Falta dinheiro? Ora, se há expertise ali, se há competência, o dinheiro aparece: vem da iniciativa privada. O capitalismo se interessa pela ciência. O problema é que boa parte do rebanho da Fefeléchi, liderado por carneiros lesos, está interessada em destruir o capitalismo. Por que não se juntam os sociólogos dali com os especialistas em estatística do IME para criar uma robusta fundação, um DataBrasil, um DataUSP? Ah, e quem vai cuidar do socialismo enquanto essa gente trabalha? Entendo. Com a quantidade de professores versados nas mais diversas línguas que têm as Letras — têm, não têm? —, por que não se cria uma fundação para a edição de livros, oferecendo aos brasileiros traduções ainda fora do alcance dos nativos? Será que isso tudo tem de ser financiado com dinheiro público?

Acontece que a casta universitária pretende ter criado a Exceção Brasileira. Ela não quer contato com o mundo real. Pior do que isso: censura quem se organiza para enfrentar com competência o mundo moderno. Conheço a FEA. Conheço gente que dá aula ali. Conheço alunos. Meu sobrinho mais velho cursa o segundo ano de Economia. De fato, nem parece a África... E não que faltem esquerdistas. Até sobram. Vi dia destes o material de certa disciplina, que ele me apresentou. É de chorar. Marxismo vagabundo. Mas também há outras influências. Ele não é de esquerda — diriam os comunistas que se trata de um jovem de direita, que até gosta de estudar; um pecado! —, mas não se sente oprimido nem pelo pensamento único nem por tetos que desabam sobre a cabeça.

E, no entanto, qual é o principal alvo das Mafaldinhas e Remelentos? A FEA, a faculdade dos burgueses — e também a Poli. Tudo porque essas faculdades descobriram que existe o mundo real. O que essa gente quer é dinheiro do estado burguês para que eles possam, na universidade, brincar de revolução; brincar de destruir... o estado burguês. Deve haver muitos defeitos na FEA. Sempre há. Mas ainda é o melhor modelo para a USP. E dona Suely, reitora da universidade, infelizmente, não concorda comigo.

PS: A propósito: reparem que os “intelequituais” das humanas, que fazem sua carreira pregando a rebelião, escolhem editoras privadas para publicar seus livrinhos — ou livrões, né, Marilena Chaui? —, que ninguém é de ferro. Para os coitadinhos que alisam os bancos, socialismo. Para os mestres do socialismo, o bom e velho capitalismo.

Pode ser cansativo desmoralizar essa gente ainda mais. Mas é necessário."
mayer

3 comentários:

Rodrigo disse...

Texto perfeito!!!

Como disse no blog do Ron, todos têm o direito de protestar. Só que há meios de fazer isso de forma inteligente e organizada. Afinal, é a única forma de obterem os resultados desejados. E, se o que é reivindicado não chega, pra quê protestar?

Abs

Anônimo disse...

Realmente um texto primoroso. Divertido e informativo.
Pixar o capitalismo é uma coisa muito fácil de se fazer. Posar de "bolchevique" é charmoso. Burrice, mas charmoso.
Nossos esquerdistas não conseguem penetrar além do glacê do bolo.
E só pra citar o meu autor predileto, o bom e velho Nelson Rodrigues, atacando as esquerdas festivas numa entrevista ele disse sobre Karl Marx: "Era uma besta graduada, este Carlo Marx".
Ron Groo
"

Gabriel Souza disse...

Ele deveria visitar a FFLCH para ver onde é a África realmente... Ele foi à Europa...

Abraço!