16 de abril de 2007

"O domingão do Lulão"

Não haveria como não compartir com os leitores de nosso blog de, pelo menos, um trecho da crônica de João Ubaldo Ribeiro, publicada no "Caderno Cultura", do Estadão de ontem.

Ubaldo escreve sobre a nova invencionice do governo petista de criar uma TV pública: "com tanto dinheiro sobrando para tanta coisa, era de admirar que não houvessem pensado nisso antes", ironiza. Em outro momento pergunta: “Para que servirá?”, e faz sugestões quanto à futura programação. Quando se refere ao jornalista “isento”, leia-se Franklin Martins:

“Antes de a nova tevê passar a apresentar um recital de piano semanal da filha do ministro Sicrano, ou as receitas da mulher do ministro Beltrano, bem como os poemas em prosa do ministro Fulano, tenho já pelo menos algumas sugestões, uma das quais o Como-é-o-nome-dele, comentarista político isento e agora empregado do governo nessa área, pode aproveitar imediatamente. (sic)

Estou seguro de que um programa intitulado Conheça Seu Ministro teria audiência garantida, pelo menos nos 30 segundos iniciais de cada um, que seriam mais do que suficientes para revelar ao público quem é o ministro e desfiar seu currículo. O resto de cada uma das dezenas de programas seria assistido somente pela família do ministro, mas já é alguma coisa, nesse mundo feroz da luta por audiência.

Mas o que deverá fazer sucesso mesmo, se eles não tiverem preconceitos bobos, será, com absoluta certeza, O Domingão do Lulão, que durará o dia inteiro, numa série infindável de atrações, a começar pela pelada presidencial, narrada com absoluta isenção pelo ex-comentarista político. E as Pegadinhas do Inácio, com as besteiras proferidas na semana anterior? O difícil ia ser selecionar, dada a quantidade disponível. Já o Show do Milhão não ia colar, não somente porque todo mundo lá já tem um milhão como ninguém sabe nada, viu nada ou ouviu nada.

Enfim, mais um tento do maior governo do mundo desde os faraós do Japão antigo. Podem até fazer o BBA, Big Brother Alvorada, acompanhando a hora em que o presidente acorda invocado e telefona para Bush para dar-lhe um esbregue até seus momentos de oração pelo Brasil e o tempo dedicado a ler e despachar diligentemente. Enfim, nada mais necessário para este país do que uma nova estação de TV governamental, iniciativa de grande peso para o nosso desenvolvimento. Só não vão poder fazer o BBB – Big Brother Brasília -, porque isso ia mostrar o que de fato acontece em nossa venturosa capital. E, como se sabe, TV do governo não é para mostrar verdade nenhuma e, muito menos, indecência.”

A ilustração é uma adaptação de charge de EVERALDO

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